A nossa moda...
Assim como a maioria, nós fomos pegas de surpresa no dia 15 março com o lockdown.
Era uma sexta-feira, a gente nemmm imaginava que seria o início de uma longa temporada sem trabalhar. Sem se ver 3 vezes por semana, sem tomar o nosso café, sem dar as nossas risadas e até as nossas choradas. Pois somos mulheres e aqui o choro é liberado, e até incentivado como ferramenta de limpeza.
Bem, as semanas começaram a passar, eu comecei a sentir muita falta das rotinas juntas, senti falta do "Oi Mi" no interfone pela manhã, senti falta do bolo que elas trazem, dos abraços matinais.
Comecei a me ver sozinha e isolada no meio de um monte de jeans e histórias sem fim, de calças abandonadas e resgatadas aguardando por um recomeço.
Mas eu também estava esperando um recomeço.
Enquanto o recomeço não vinha, nós fomos crescendo internamente, como sementinhas na terra
Chaene teve seu terceiro filho, eu me desesperei por ela, porque eu não tinha como manter sua contribuição mensal integral, bem na hora que ela mais precisava. Então eu pedi ajuda aos mentores espirituais, que me iluminaram com a ideia de uma rifa, e que ideia!
Foi a salvação, a rifa deu certo, bombou e cresceu. No início era só o prêmio da Think Blue, mas depois 8 marcas se juntaram, abraçaram a causa e a nossa rifa transcendeu, se tornou uma corrente de amor, de afeto, colaboração e acolhimento.
Esse movimento gerou uma energia tão forte e tão incrível, que faz a gente perceber, que a moda pode sim ser legal sabe, pode sim ser usada como uma ferramenta de mudança. de apoio, de acolhimento.
E por falar em mudança, nossa, foram muitas mudanças. parece que passou uma ventania por aqui, tirou tudo do lugar e depois eu não queria mais esse lugar.
Porque estar no mesmo lugar há 4 anos, desanima sabe.
E ai eu desanimei e chorei. Chorei mesmo, porque a vergonha mais cruel que um ser humano poder ter, é a vergonha de chorar, e essa graças as Deusas, eu não tenho!
Chorei, chorei mesmo e me limpei.
Botei pra fora o que não aguentava mais e me renovei.
Passei 51 dias germinando na minha terra adubada.
Sim, eu fiquei aqui pensando, refletindo, lendo, estudando e aprendendo. Estudei como voltar sem me sabotar, sem me colocar em último lugar.
Como equilibrar o pessoal com o profissional, quando as duas coisas juntas ocupam o mesmo e único espaço.
Complicado, mas a gente consegue. Mais uma vez.
Dar certo não é uma escolha, é a única opção.
E nós recomeçamos.
Hoje dia 12/11/20 resolvi recomeçar, chamei a Chaene com o bebê dela de 4 meses pra cá, e ela topou na hora.
Quando chegou, ela me disse: "Mi eu sabia que isso aconteceria, eu não queria trabalhar em outro lugar não, sabia que você ia voltar!"
É com muito amor e comprometimento com o que faz, que nós voltamos.
Ainda são 15:37 e tá sendo tão bom esse dia que eu resolvi vir aqui escrever um pouco.
O Davi Gabriel está ali no sofá dormindo como um anjinho, eu estou cortando de novo e a Chae com o pezinho dela na máquina fazendo aquele som de motor, que só quem tem uma máquina de costura sabe o poder que tem esse som....
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Enfim o que eu relatei aqui descreve uma moda com propósito, com respeito, com amor, com acolhimento. Uma moda que não tem vergonha de mostrar quem ela é de verdade, uma moda que não quer ser ou que não é.
Isso é transparência, resistência e competência também.
Essa é a nossa moda... <3
Agora eu paro por aqui, porque tenho que cortar. ..
Mirella Rodrigues
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